Ferroeste: “Maior desafio é uma nova ferrovia”, diz presidente 26/06/2017 - 15:31

Em entrevista ao Hoje, João Vicente Bresolin destaca os investimentos do governo do Estado nos últimos cinco anos e fala sobre os desafios para a construção de uma nova ferrovia.
Atualmente, menos de 4% do que é produzido e despachado para o Porto de Paranaguá é transportado pela Ferroeste. A limitação ainda é provocada por problemas antigos: gargalos estruturais e falta de vagões.
O curitibano João Vicente Bresolin Araujo, presidente da Ferroeste desde 2012, é neto do empresário Hylo Bresolin, pioneiro de Cascavel e um dos maiores idealizadores da ferrovia.
Formado em Engenharia Florestal pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e em Administração pela Unfiae (Centro Universitário Franciscano do Paraná), João Vicente já atuou no setor de transportes da ALL (América Latina Logística).
Hoje: Entre os investimentos que a Ferroeste recebeu nos últimos cinco anos, o que pode ser destacado?
João Vicente Bresolin Araujo: Os investimentos do governo do Estado para modernizar a Ferroeste foram 13 vezes superiores aos aportes verificados nos seis anos de governos anteriores. Até hoje, foram investidos mais de R$ 8 milhões na compra de equipamentos, com destaque para a aquisição de sete locomotivas e 364 vagões, além dos recursos que foram destinados à recuperação de outras quatro máquinas.
Hoje: Qual é o volume da movimentação de cargas registrado no ano passado?
João Vicente: Em 2016 a Ferroeste movimentou 826 mil toneladas, considerando granéis, contêineres frigorificados e outras cargas transportadas pela ferrovia. Esse volume corresponde ao fluxo interno, carga transportada dentro da malha exclusiva da empresa e às operações de exportação e importação.
Hoje: Neste ano a expectativa é atingir maior volume?
João Vicente: Para 2017 a perspectiva é muito promissora. A estimativa de movimentação de cargas ultrapassa a marca de 1 milhão de toneladas, levando-se em conta os contratos de operação já existentes. Entretanto, a realização da estimativa depende de variáveis como o tamanho e o desempenho da safra, assim como da política de preços praticada pelo mercado. A disponibilidade de vagões da concessionária que opera o trecho Guarapuava/Paranaguá para atender a região oeste também pode interferir nos resultados, pois até o momento apenas 60% do previsto no COE (Contrato Operacional Específico), assinado com a Rumo/ALL, vem sendo atendido.
Hoje: O transporte de cargas graneleiras como soja, milho e trigo ocorre com maior intensidade?
João Vicente: Sim. Os granéis representam aproximadamente 80% do volume transportado pela ferrovia. Estamos falando de soja, milho e trigo. Os outros produtos com boa participação nas operações da empresa são a proteína animal congelada, com destino ao Porto de Paranaguá, e o cimento para a região oeste. Além disso, no sentido da importação, a ferrovia leva insumos agrícolas, como adubo e fertilizante, além de combustíveis.
Hoje: O transporte ferroviário tem correspondido às demandas da região oeste?
João Vicente: A realidade é que o Paraná precisa avançar muito na questão ferroviária para atender de modo apropriado à demanda dos produtores do oeste paranaense, uma das zonas mais produtivas do Brasil. Estudos do governo do Estado demonstram que essa região movimenta, por ano, cerca de 14 milhões de toneladas, sendo que, desse volume, o montante que chega ao Porto de Paranaguá por ferrovia corresponde a somente 440 mil toneladas. Há muito que crescer para escoar toda a nossa produção agrícola.
Hoje: O terminal da Cotriguaçu tem contribuído com as cooperativas? Qual é o volume armazenado no terminal?
João Vicente: A Cotriguaçu inaugurou no início de 2016, no complexo ferroviário da Ferroeste, em Cascavel, o seu Terminal de Granéis, um investimento de R$ 65 milhões, em complemento ao Terminal de Congelados e Contêineres, inaugurado em 2013. A Cotriguaçu tem capacidade instalada de 10 mil toneladas para produtos frigorificados e silos com a capacidade estática de armazenagem de 120 mil toneladas de granéis. Os novos silos, aliás, já estão com a capacidade de armazenamento totalmente ocupada.
Hoje: O governo tem se empenhado no sentido de ampliar a ferrovia?
João Vicente: O governo do Estado tem buscado várias alternativas no sentido de viabilizar a expansão do sistema ferroviário paranaense. No entanto, a solução para a questão ferroviária depende de diversos atores econômicos, políticos e sociais. O crescimento da economia paranaense, que pode ser constatada pelo avanço das operações no Porto de Paranaguá, é um indicativo seguro do que estou afirmando. Este ano o Porto de Paranaguá deve movimentar 46 milhões de toneladas e apenas 20% da produção do Estado chega ao terminal por ferrovia. Até 2030, o porto vai movimentar 80 milhões de toneladas. A participação da ferrovia, se não houver uma inversão radical na matriz de transporte, vai cair para 10% nos próximos anos, o que é lamentável, uma vez que os fretes ferroviários são mais baratos.
Hoje: Qual é o montante de máquinas da Ferroeste? Existem projetos para a compra de novas locomotivas?
João Vicente: Atualmente, a companhia opera com 15 locomotivas e 424 vagões. Um avanço considerável em relação ao ano de 2011, no início da atual gestão do governo, quando a empresa operava com três locomotivas e somente 60 vagões.
Hoje: Dificuldades que foram deixadas por gestões anteriores foram superadas?
João Vicente: Mesmo estando o terminal de Cascavel e a malha da Ferroeste entre os mais modernos do Paraná e do Brasil, existem condições históricas que limitam nossas operações. O corredor ferroviário que liga Cascavel ao Porto de Paranaguá, saindo de Guarapuava, concessão de outra empresa, apresenta dois grandes gargalos ferroviários: um na Serra da Esperança, entre Guarapuava e Ponta Grossa, e outro na Serra do Mar, entre Curitiba e Paranaguá. O primeiro é da década de 1950 e o segundo da época do Império.
Hoje: O senhor está à frente da ferrovia desde 2012, como avalia sua gestão e qual é o principal desafio hoje?
João Vicente: A modernização da ferrovia, a compra de novos ativos (vagões e locomotivas), a recuperação da malha, assim como investimentos em segurança ferroviária falam pela atual diretoria e pelo quadro funcional, que, a propósito, sempre deu irrestrito apoio aos projetos da empresa. Paralelamente, fortalecemos as operações ferroviárias de fluxo interno, entre Guarapuava e Cascavel, economicamente mais vantajosas para a companhia. O principal desafio não é somente meu nem da diretoria da empresa, mas é coletivo. Esse desafio é a construção de uma nova ferrovia no Paraná, o que somente será possível com a unidade entre o governo do Estado e os produtores rurais, cooperativas e entidades de classe voltadas ao agronegócio.
Hoje: E quanto aos gargalos e à ampliação?
João Vicente: Somente com apoio e boa vontade das forças políticas e econômicas do oeste do Paraná e do Mato Grosso do Sul será possível viabilizar o projeto de expansão da ferrovia entre Cascavel e Dourados, no Mato Grosso do Sul, e a construção do trecho entre Guarapuava e Paranaguá. A novidade é que o governo estadual criou um grupo de trabalho para encontrar soluções para a questão ferroviária paranaense. Esse estudo já foi concluído e deve ser publicado dentro de dois meses, trazendo novas alternativas para viabilizar a ferrovia, que é um anseio antigo da sociedade organizada paranaense.
Reportagem: Romulo Grigoli

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